
07 DE OUTUBRO DE 2020
PEDRO GONZAGA
Algumas entre muitas coisas para as quais não tenho resposta
Coisa 1: Por que escrevo tão pouco a meus velhos professores, aos amigos remotos, aos amores extintos e ao amor de agora, sobre como foram e são fundamentais enquanto ainda estamos todos aqui?
Coisa 2: Onde ficava minha irmã caçula enquanto meu irmão e eu passávamos adolescentes os verões na casa de nossos avós em Capão? (Absolve-me da ignorância o fato de que ninguém mais na família ofereceu-me dados convincentes.)
Coisa 3: No final de Encontros e Desencontros, o que Bill Murray sussurra ao pé do ouvido de Scarlett Johansson em meio a uma Tóquio frenética antes de se separarem?
Coisa 4: Se Drummond diz num verso que até os quarenta anos não resolvemos, sequer propusemos nossos problemas, quando o faremos?
Coisa 5: Por que certos dias permanecem na memória, viscosos como a realidade, enquanto anos inteiros partem sem qualquer consideração? (As manhãs preguiçosas se escafedem, as tardes de prazer em geral saem à francesa. Somente as noites de agonia ou pânico insistem em permanecer até a festa acabar.)
Coisa 6: Por que há muito mais conselheiros da vida alheia do que pessoas dispostas, inclusive os conselheiros, a ouvir tais conselhos? (Não há dúvida, no entanto, de por que usam as mesmas paletas de cores e as mesmas palavras em dancinhas sensaboronas nos aplicativos.)
Coisa 7: Por que as melhores coisas a serem ditas chegam atrasadas, obsoletas, quando podiam ter sido brilhantes e capazes de salvar o amor, pacificar a discórdia, remir o sofrimento? (Ou ao menos bem-vindas naquela lacrada nossa de cada dia numa discussão inútil.)
Coisa 8: Por que certas pessoas ruborizam somente quando não há nada a constrangê-las?
Coisa 9: Que forma superior e cruel de criador nos dá sempre um vizinho que a) ouve música ruim; b) em volume nocivo; c) canta junto; d) supõe a afinação um conceito antiquado?
Coisa 11: O que faz as canções de Leonard Cohen trazerem a um só tempo conforto e inquietação?
Coisa 12: O que leva certas pessoas, ano após ano, a declarar Natal em outubro, apressadas em chegar ao que mesmo?
Coisa 13: Por que quando tive certeza de uma resposta, descobri-me enganado, e por que quando julgava estar de todo perdido, senti-me próximo de encontrá-la? (Talvez, gosto de crer, porque só haja respostas feitas de vislumbres, breves formas da verdade, que já não serão também parte desta lista.)
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