terça-feira, 6 de outubro de 2020


06 DE OUTUBRO DE 2020
OPINIÃO DA RBS

INÍCIO DE RETOMADA 

Na busca de indicadores que apontem para uma tendência de recuperação da economia, um sinal positivo para o Rio Grande do Sul vem da construção civil. O setor, um dos mais atingidos pela desaceleração do crescimento e depois pela recessão de 2015 e 2016, ressurge agora com números que mostram um desempenho sensivelmente melhor em relação aos demais segmentos, ao menos na geração de postos de trabalho, amenizando o drama do desemprego, uma das faces mais cruéis da crise desencadeada pela irrupção do novo coronavírus. Reportagem publicada ontem em Zero Hora detectou que, em julho e agosto, a construção civil teve saldo positivo de 2 mil vagas com carteira assinada no Estado.

Mesmo que represente apenas pouco mais de um terço dos empregos formais perdidos entre março e junho, período mais crítico da pandemia, os dados indicam que há uma tendência de criação de postos, solidificando a certeza de que o pior momento ficou no retrovisor, a despeito da série de incertezas que persiste à frente. A indústria gaúcha até abriu mais vagas nestes dois meses, 7,3 mil, mas o número representa apenas 17% dos empregos fechados nos quatro meses imediatamente anteriores. 

O comércio e a agropecuária, da mesma forma, apresentam recuperação, com contratações superando demissões no saldo de julho e agosto, mas em velocidade menor. Somente os serviços, ramo de maior peso na economia, continuaram com dispensas acima das admissões. No total, conforme os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do governo federal, o Estado recuperou entre julho e agosto somente 9,1 mil dos 134,1 mil empregos com carteira destruídos de março a junho. Nota-se que a recomposição do mercado de trabalho ainda vai demorar.

A manutenção da tendência de melhora, no entanto, depende de uma série de fatores. No caso da construção civil, uma das razões para o bom desempenho está relacionada à queda da taxa Selic, hoje em 2% ao ano, melhorando as condições de financiamento. Para que esse ponto basilar se mantenha e seja sustentável, no entanto, é preciso que o governo federal se desvie de tentações populistas e de gastança e retome a prioridade da responsabilidade fiscal. 

Caso contrário, como alertam especialistas, o Banco Central, pressionado pelo recrudescimento da inflação e deterioração das contas públicas, será forçado a elevar as taxas mais cedo do que se imagina. A aquisição de um bem que em muitos casos leva vários anos para ser quitado, da mesma forma, é uma decisão que depende da confiança em relação à situação da economia em um horizonte de, ao menos, médio prazo.

A continuidade da retomada gradual das atividades econômicas no Estado e um menor risco de retrocesso também se vinculam à desaceleração da pandemia. Essa conquista deve ser creditada em boa parte à correta orientação da maior parte das autoridades públicas, que estimularam o distanciamento social, o uso de máscaras e outros hábitos, incorporados pela grande maioria da população, que levaram o Rio Grande do Sul a ostentar uma situação até privilegiada em termos de disseminação da covid-19 em comparação com outras unidades da federação e países, a despeito da tragédia de quase 5 mil vidas perdidas. A disciplina e a consciência, portanto, precisam ser mantidas. Vários outros lugares do mundo passam neste momento pelo risco de uma segunda onda pela postura de relaxamento de comportamentos individuais.

O pior período das crises sanitária e econômica passou, mas baixar a guarda é um erro que pode custar caro. Enquanto o planeta aguarda uma vacina segura e eficaz, os gaúchos devem continuar atentos quanto a hábitos e posturas, aperfeiçoando os acertos e aprendendo com os erros para não voltar a ceder terreno à covid-19.

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